Uma Casa de Vila, Um Samba e o Méier que João Nogueira Merece.
Crônicas da Zona Norte
Publicado em 25 de Novembro de 2025 às 02:38 PM
Uma Casa de Vila, Um Samba e o Méier que João Nogueira Merece.
No meu sonho, levei seu João para visitar um imóvel...
Levei direto pra aquela casa de vila escondida entre a rua Dias da Cruz e um cheiro teimoso de pão quentinho que sempre foge da padaria da esquina. Porque o Méier é assim, tem dessas coisas que não aparecem no mapa, mas aparecem no coração.
E quando eu abri o portãozinho branco da vila, daqueles que fazem “clac-clac” como uma cuíca afinando antes de começar o samba, pensei:
“Pronto. Aqui até a parede bate palma.”
A vila tinha aquele silêncio gostoso de rua que não tem carro passando, mas ao mesmo tempo carregava um burburinho distante que só quem mora no Méier entende. Um rádio tocando um samba na janela de alguém. Um vizinho conversando com outro sobre o vasco e Flamengo do fim de semana. Uma criança pedalando como se estivesse atravessando o mundo, mas só atravessava a vila mesmo.
A casa? Ah, a casa parecia ter sido construída pra quem coleciona histórias.
Duas janelas grandes que deixavam o sol entrar de mansinho, como quem respeita a rotina do morador e uma sala que já nasce com alma de roda de samba espaçosa, convidativa, com cara de domingo à tarde.
Dá pra imaginar João ali, violão no colo, testando um verso novo entre um gole de café e outro.
Porque casa de vila tem isso: ecoa melhor.
Até o silêncio soa afinado.
Um dos quartos parecia feito para um poeta: iluminado, calmo, com aquela brisa que chega inesperada e abre a cortina sozinha.
O segundo cômodo… bom, ali dava pra ser estúdio, escritório, quartinho de compor ou de guardar discos.
E a cozinha…
A cozinha tinha cheiro de início de dia.
De pão com manteiga antes da vida começar a correr.
Daquelas que parecem olhar pra você e dizer: “Fica mais um pouquinho.”
Mas o melhor mesmo era a vila.
A vila que parece cidade pequena dentro da cidade grande.
A vila que cumprimenta.
Que acolhe.
Que guarda segredo e, ao mesmo tempo, inventa histórias.
E tudo isso no Méier, esse bairro que não promete ser perfeito, mas promete ser seu.
Bairro de gente que vive com ritmo, de quem conhece o dono do bar pelo nome, de quem compra fruta na feira e ideia com o feirante. Bairro que mistura o hoje com o ontem, o samba com o trem, o Imperator com o pastel de domingo.
Deixei ele a vontade para visitar o imóvel e terminei com a frase:
“Mestre João...
Essa casa não é só uma casa.
É palco, silêncio, poesia e quintal de história.
E se o senhor quiser, a vila inteira vira plateia.”
Porque morar no Méier e ainda por cima numa casa de vila, é escolher viver num daqueles lugares que, sem querer, escrevem capítulos da sua vida.
E capítulo bom, sempre tem cara de samba.
E isso, Mestre João, você sabe bem. Nenhum anuncio explica. Só vivendo...